Supply Chain Cognitivo
Há muito
que os estudos, livros e experiências buscam nos instruir em como construir uma
Cadeia de Suprimentos Integrada (ou Integrated Supply Chain). Nos anos
de 1980-90, o desenvolvimento dos primeiros pacotes de Sistemas Integrados de
Gestão (ERP-Enterprise Resource Planning)
vieram para substituir aos então sistemas feitos “in-house” com a promessa de
integrar tudo à todos, trazendo nestes as melhores
práticas operativas e a formalização de processos. 
Seu sucesso contudo
dependeu sempre de uma estrutura organizacional formalizada em papéis e
responsabilidades bem definidos, operando por processos e uma equipe sempre motivada
(e monitorada) para trazer maior produtividade, qualidade e performance. 
Especificamente
na área de Logística/Supply Chain muitas empresas adotaram  tecnologias
então emergentes de telecomunicação e gestão remota, geo-localização e
referenciamento, rádio-frequência, sensoriamento, robotização; de onde surgiram
centenas de novos sistemas que necessitaram ser integrados aos sistemas formais
de administração e gestão. 
Mais
recentemente novos sistemas de inteligência do negócio (Business Inteligence) e planejamento avançado (Advanced Planning and Optimization) trouxeram para o ambiente
operacional modelos matemáticos sofisticados, capazes de combinar uma grande
quantidade de variáveis, feitos para projetar cenários e dar respostas simples para problemas complexos. 
Esses sistemas se
apoiam em uma grande quantidade de informação estruturada (boa parte vindo dos
ERPs) e trabalhada usando modelos formais, consumindo alto poder computacional,
exigindo alta qualidade e atualização constante das informações.  
Nos últimos
5-7 anos a disponibilização da Internet e dos dispositivos embarcados no
ambiente operacional (IoT-Internet of
Things) foram as últimas novidades, a maioria ainda em fase de testes e
justificação econômica.   
Contudo, percorridos
quase quarenta anos nessa rotina de melhorar e inovar o supply chain,  muitas empresas ainda continuam sofrendo com
falta de produtividade e baixa eficiência, muito aquém do que gostariam, seja
por conta de não terem tido sucesso em algumas implementações ou por
simplesmente não terem inovado o suficiente. O  “gap”
em termos de produtividade e performance se amplia a cada dia.   
Para
complicar ainda mais a vida das empresas, é urgente a necessidade de transformação, imposta pelas novas demandas do
consumidor, do mercado e da concorrência, em escala mundial, impondo mudanças e
fazendo tudo parecer obsoleto.
Estudo
recente desenvolvido pelo IBM Institute
for Business Value - Redefining Ecosystems – The COO-Level Perspective, 2015(1), que entrevistou mais de cinco mil executivos em várias indústrias, geografias
e posições; expõe essa preocupação de transformação por uma nova ótica. Segundo
eles “...o
 que mais tememos é competição disruptiva –
aquela em que novos jogadores podem simplesmente aparecer e desintermediar os nossos
negócios formais através do desenvolvimento novos modelos de negócios,
fornecendo mais valor.".   Nesse
estudo, a falta de integração de informações dentro das organizações é apontada
por 75% dos CFO’s como o principal fator para enfrentar essa ameaça, onde
apenas 47% deles se acham capacitados para tal.   
Nessa linha de “desintermediação”
novos negócios tem surgido, criando regras próprias e novas fronteiras, usando
plataformas tecnológicas como viabilizador. Exemplos como : Uber, Nubank, Spotfy,
Amazon Locker, eMarketplace, Wine, FordPass, entre outros ; trazem em seus
modelos competências específicas e “quebram” modelos tradicionais como o de venda-pagamento-entrega,
representando uma “invasão” ao supply-chain tradicional simplificando e
agilizando as transações. 
Nesse contexto, portanto não basta ter um Supply Chain integrado e otimizado para ser eficaz,  sobreviver e criar novos caminhos de inovação.
Há que se
desenvolver o que chamamos de Supply Chain Cognitivo, ou uma nova cadeia
de suprimentos capaz de ser eficaz a cada transação, conectando pessoas,
processos e máquinas numa dinâmica que seja direta, rápida (tempo real!),
acertiva, flexível, barata e segura. 
Baseando-se
nos modelos da Industry 4.0(2) , o Supply Chain Cognitivo opera esses elementos em dois eixos:  
- Vertical  - 
     Trata-se de uma visão de dentro do negócio, do chão de fábrica à
     gestão estratégica. Aqui o negócio “escuta a operação” e “reaje na medida
     e no tempo certo”, de forma a sustentar o lucro do negócio a partir de
     atuações cirúrgicas em cada pequena parte da empresa a cada dia.    Exemplo: Uma parada não planejada de um
     equipamento pode causar sérios prejuízos para a formação de estoques e
     perda de vendas. Ser capaz de prever potenciais falhas (e evitá-las a
     tempo!) irá garantir a operação sem interrupções e manter os planos de
     produção em dia, o faturamento e os resultados dentro do quartil esperado.  
Figura 1 - Visão Vertical de Processos e Sistemas 
- Horizontal – Trata-se de uma visão cruzada das
     empresas que participam do ciclo de negócio.  É a sincronização perfeita de operações entre
     Supply Chain’s a partir de uma
     transação específica.  Exemplo: A simples
     remessa de um pedido depende de vários processos e setores como comercial,
     financeiro, administrativo, cadastro e a logística, tanto do lado cliente
     (que pede) tanto do lado do fornecedor (que produz) e do operador
     logístico (que entrega).    Será a
     sincronização horizontal entre todos os “jogadores”  que fará com a remessa ande mais depressa,
     chegue na hora certa e custe menos. 
Figura 2 – Visão Horizontal de Cadeias de Valor
Integradas
O Supply
Chain Cognitivo  opera esses dois
eixos simultaneamente, através de plataforma Físico-Cibernética ou CPS-Cyber Physical Solution Platform (2) que emprega tecnologias de IoT
(Internet of Things) “ouvindo” o ambiente operacional (fábricas,
armazéns,comércio, laboratórios, etc), 
coletando dados de forma massiva (big-data)
vindos dos equipamentos e sensores (machine-to-machine)
e sistemas operados remotamente (ex. PLC’s, MES, SCADA, GPS, RFID, WMS) e
integrando-os à sistemas analíticos centralizados(BI).  
Figura 3 – Modelo de Solução Cyber-Phisycal
(Industry 4.0)
Estes dados são
complementados por outras informações do
ambiente ou ecosistema (normalmente não cobertos  pelos sistemas citados) necessárias para uma
completa monitoração e controle. 
Exemplos disso são vistos nos processos de identificação
e autorização de entrada e acesso a instalações por profissionais certificados,
registros de segurança e áreas de restrição, clima, alertas externos de riscos,
vazamentos, corrosão, incidentes em rota, acidentes em geral, etc; podem ser
registrados e capturados de forma autônoma or sensores ou pelos operadores,
engenheiros, supervisores de plantão, motoristas, vendedores; usando recursos disponíveis
 de mobilidade ligados à Internet. Aqui
podemos dizer que temos a Internet das Pessoas (IoP- Internet-of-People).
Grande parte
desses dados não estão estruturados nos
formatos e qualidade que os sistemas de gestão existentes utilizam e vão exigir
um tratamento de entendimento de linguagem natural, conversão voz-texto, tradução,
decodificação ou modelagem estatística. Atualmente existem um conjunto generoso
de  Serviços da Internet em Cloud (IoS-Internet of Services) disponíveis
para essa transformação, com capacidade de geração de insights e resultados em
tempo real. 
Com as informações
prontas para serem consumidas o Supply
Chain Cognitivo entrega esses conteúdos, na forma mais transacional e
direta possível, seja em forma de relatórios,dashboards, mensagens ou
recomendações objetivas para equipes operacionais e de nível gerencial/tático
para tomada de decisão.  Esta informação
pode vir em formato de comandos, com
regras e ações dirigidas às máquinas tornando os sistemas totalmente autônomos
orientados por eventos. 
Podemos estabelecer
algumas situações conhecidas em a proposta de um Supply Chain Cognitivo façam
sentido:
| 
Caso de Uso | 
Supply Chain Tradicional | 
Supply Chain Cognitivo | 
| 
Venda  e  Entrega | 
§ O
  pedido é calculado e enviado pelo cliente com sua visão de necessidade e
  prazos.  As mercadorias se movimentam
  na medida da aprovação comercial, de crédito e da disponibilidade de produtos.
   
§ Trâmites
  fiscais e processos logísticos concluem a operação.   
§ O
  consumo pode ser interrompido caso algum processo demore mais do que o
  esperado.  
§ O
  sucesso da operação é medido ao final de todo o processo.  | 
§ A
  mercadoria é abastecida com base em demanda real e mecanismos de reposição
  contínua sensíveis a ocorrências no ponto de consumo.  
§ Condições
  para o atendimento são previamente combinadas com base no sortimento
  personalizado, no consumo e capacidade operacional sincronizados. 
§ Risco
  de rupturas é minimizado.  
§ O
  sucesso da operação é monitorado no ato e pelo cliente. | 
| 
Manutenção de
  Equipamentos | 
§ Modelo
  Estatístico de Processos trabalha em cima de dados do equipamento e da
  produção e estabelece prazos e condições onde um equipamento pode falhar e
  planeja paradas programadas.   
§ Falha
  causada por evento não monitorado causa parada abrupta do equipamento,  quebra do ritmo operacional e perda da
  produção.  
§ Compromissos
  não são cumpridos e custo de manutenção é maior que o esperado.  | 
§ Sensores
  e mecanismos cognitivos  coletam dados
  não estruturados do ambiente e combinam dinamicamente com dados sensorizados
  do equipamento.  
§ Modelos
  preditivos alertam o supervisor por celular a probabilidade de falha com
  maior antecedência e recomendam ajustes imediatos ou programados para
  períodos de menor uso e risco. 
§ Programação
  da produção é mantida e manutenção pode ser espaçada, reduzindo custos e
  aumentando a produtividade.  | 
| 
Otimização na
  Geração de Energia  | 
§ A
  energia gerada como resultante de um processo produtivo pode ser
  reaproveitada em outra etapa ou instalação oferecendo importante economia
  potencial de recursos.  
§ A falta
  de sincronismo entre as etapas ou instalações e a impossibilidade de
  armazenamento dessa energia resultante acaba por se configurar num
  desperdício impactando no custo e na competitividade do produto.  | 
§ Sistemas
  cognitivos coletam a cada minuto dados das diferentes instalações
  interligadas e são combinados com os planos de produção e programação dessas
  linhas. 
§ Modelos
  preditivos permitem sugerir e até comandar um novo regime de operação,  com aumento/redução de ciclos,
  abertura/fechamento de válvulas e promover a melhor sincronização de
  processos e maior aproveitamenteo de energia e com menor consumo geral. | 
| 
Monitoramento
  de Consumo Remoto | 
§ O
  controle e o rebastecimento de reservatórios estacionários de gás, outros
  gases ou líquidos são feitos periodicamente por veículos especiais, em ciclos
  diários ou semanais, roteirizados com base no histórico de consumo. 
§ Qualquer
  aumento de consumo, perdas ou falha operacional nos tanques ou nas tubulações
  geram paradas inesperadas, causando interrupção da produção e de serviços
  essenciais. 
§ O
  controle e a cobrança desse consumo é feito nos momentos de reabastecimento,
  com baixa flexibilidade para reprogramações, com riscos de atrasos e
  cancelamentos. | 
§ O
  monitoramento dos tanques e instalações feitos com Sistemas IoT e Mobilidade
  permitem saber em tempo real o consumo de cada instalação e o seu local, bem
  como eventuais incidentes que ocorram. 
§ Sistemas
  analiticos planejam o momento ideal de reabastecimento sem riscos de falta ou
  excesso, e permitem melhor programação de rotas, com flexibilidade para
  atender a emergências;  gerando
  economias no custo total da operação. 
§ O valor
  do consumo é conhecido em tempo real oferecendo formas mais vantajosas de
  cobrança e pagamento para o cliente e para o fornecedor.  
§ O
  planejamento adequado de abastecimento permite otimizações do porte dos
  tanques com melhor controle de ativos. | 
Conclusão
Um Supply
Chain Cognitivo se
constroi criando a capacidade
de “ouvir e sentir” a operação, prever necessidades, otimizar operações e
“responder”prontamente com ações para tornar os processos mais autônomos e
eficazes.  
Esta capacidade trará maior controle e
melhores condições de agir rapidamente, no lugar e medida corretas, ampliando as fronteiras de operação das pessoas
e das empresas.  
Autor: Paulo
Eduardo Corazza – IBM Brasil Industry Consulting 
Referências: (1) IBM
Institute for Business Value - Redefining Ecosystems – The COO Perspective,
2015; (2)
Recommendations for implementing the strategic initiative Industrie 4.0
– Interconect 2016.



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