quinta-feira, 31 de março de 2016

Supply Chain Cognitivo

Supply Chain Cognitivo
Há muito que os estudos, livros e experiências buscam nos instruir em como construir uma Cadeia de Suprimentos Integrada (ou Integrated Supply Chain). Nos anos de 1980-90, o desenvolvimento dos primeiros pacotes de Sistemas Integrados de Gestão (ERP-Enterprise Resource Planning) vieram para substituir aos então sistemas feitos “in-house” com a promessa de integrar tudo à todos, trazendo nestes as melhores práticas operativas e a formalização de processos. 

Seu sucesso contudo dependeu sempre de uma estrutura organizacional formalizada em papéis e responsabilidades bem definidos, operando por processos e uma equipe sempre motivada (e monitorada) para trazer maior produtividade, qualidade e performance.

Especificamente na área de Logística/Supply Chain muitas empresas adotaram  tecnologias então emergentes de telecomunicação e gestão remota, geo-localização e referenciamento, rádio-frequência, sensoriamento, robotização; de onde surgiram centenas de novos sistemas que necessitaram ser integrados aos sistemas formais de administração e gestão.

Mais recentemente novos sistemas de inteligência do negócio (Business Inteligence) e planejamento avançado (Advanced Planning and Optimization) trouxeram para o ambiente operacional modelos matemáticos sofisticados, capazes de combinar uma grande quantidade de variáveis, feitos para projetar cenários e dar respostas simples para problemas complexos

Esses sistemas se apoiam em uma grande quantidade de informação estruturada (boa parte vindo dos ERPs) e trabalhada usando modelos formais, consumindo alto poder computacional, exigindo alta qualidade e atualização constante das informações. 

Nos últimos 5-7 anos a disponibilização da Internet e dos dispositivos embarcados no ambiente operacional (IoT-Internet of Things) foram as últimas novidades, a maioria ainda em fase de testes e justificação econômica.   

Contudo, percorridos quase quarenta anos nessa rotina de melhorar e inovar o supply chain,  muitas empresas ainda continuam sofrendo com falta de produtividade e baixa eficiência, muito aquém do que gostariam, seja por conta de não terem tido sucesso em algumas implementações ou por simplesmente não terem inovado o suficiente. O  “gap” em termos de produtividade e performance se amplia a cada dia.   

Para complicar ainda mais a vida das empresas, é urgente a necessidade de transformação, imposta pelas novas demandas do consumidor, do mercado e da concorrência, em escala mundial, impondo mudanças e fazendo tudo parecer obsoleto.

Estudo recente desenvolvido pelo IBM Institute for Business Value - Redefining Ecosystems – The COO-Level Perspective, 2015(1), que entrevistou mais de cinco mil executivos em várias indústrias, geografias e posições; expõe essa preocupação de transformação por uma nova ótica. Segundo eles “...o  que mais tememos é competição disruptiva – aquela em que novos jogadores podem simplesmente aparecer e desintermediar os nossos negócios formais através do desenvolvimento novos modelos de negócios, fornecendo mais valor.".   Nesse estudo, a falta de integração de informações dentro das organizações é apontada por 75% dos CFO’s como o principal fator para enfrentar essa ameaça, onde apenas 47% deles se acham capacitados para tal.  

Nessa linha de “desintermediação” novos negócios tem surgido, criando regras próprias e novas fronteiras, usando plataformas tecnológicas como viabilizador. Exemplos como : Uber, Nubank, Spotfy, Amazon Locker, eMarketplace, Wine, FordPass, entre outros ; trazem em seus modelos competências específicas e “quebram” modelos tradicionais como o de venda-pagamento-entrega, representando uma “invasão” ao supply-chain tradicional simplificando e agilizando as transações. 

Nesse contexto, portanto não basta ter um Supply Chain integrado e otimizado para ser eficaz,  sobreviver e criar novos caminhos de inovação.

Há que se desenvolver o que chamamos de Supply Chain Cognitivo, ou uma nova cadeia de suprimentos capaz de ser eficaz a cada transação, conectando pessoas, processos e máquinas numa dinâmica que seja direta, rápida (tempo real!), acertiva, flexível, barata e segura.
Baseando-se nos modelos da Industry 4.0(2) , o Supply Chain Cognitivo opera esses elementos em dois eixos: 
  • Vertical  -  Trata-se de uma visão de dentro do negócio, do chão de fábrica à gestão estratégica. Aqui o negócio “escuta a operação” e “reaje na medida e no tempo certo”, de forma a sustentar o lucro do negócio a partir de atuações cirúrgicas em cada pequena parte da empresa a cada dia.    Exemplo: Uma parada não planejada de um equipamento pode causar sérios prejuízos para a formação de estoques e perda de vendas. Ser capaz de prever potenciais falhas (e evitá-las a tempo!) irá garantir a operação sem interrupções e manter os planos de produção em dia, o faturamento e os resultados dentro do quartil esperado. 

Figura 1 - Visão Vertical de Processos e Sistemas
  • Horizontal – Trata-se de uma visão cruzada das empresas que participam do ciclo de negócio.  É a sincronização perfeita de operações entre Supply Chain’s a partir de uma transação específica.  Exemplo: A simples remessa de um pedido depende de vários processos e setores como comercial, financeiro, administrativo, cadastro e a logística, tanto do lado cliente (que pede) tanto do lado do fornecedor (que produz) e do operador logístico (que entrega).    Será a sincronização horizontal entre todos os “jogadores”  que fará com a remessa ande mais depressa, chegue na hora certa e custe menos.

Figura 2 – Visão Horizontal de Cadeias de Valor Integradas
O Supply Chain Cognitivo  opera esses dois eixos simultaneamente, através de plataforma Físico-Cibernética ou CPS-Cyber Physical Solution Platform (2) que emprega tecnologias de IoT (Internet of Things) “ouvindo” o ambiente operacional (fábricas, armazéns,comércio, laboratórios, etc),  coletando dados de forma massiva (big-data) vindos dos equipamentos e sensores (machine-to-machine) e sistemas operados remotamente (ex. PLC’s, MES, SCADA, GPS, RFID, WMS) e integrando-os à sistemas analíticos centralizados(BI)


Figura 3 – Modelo de Solução Cyber-Phisycal (Industry 4.0)

Estes dados são complementados por outras informações do ambiente ou ecosistema (normalmente não cobertos  pelos sistemas citados) necessárias para uma completa monitoração e controle. 

Exemplos disso são vistos nos processos de identificação e autorização de entrada e acesso a instalações por profissionais certificados, registros de segurança e áreas de restrição, clima, alertas externos de riscos, vazamentos, corrosão, incidentes em rota, acidentes em geral, etc; podem ser registrados e capturados de forma autônoma or sensores ou pelos operadores, engenheiros, supervisores de plantão, motoristas, vendedores; usando recursos disponíveis  de mobilidade ligados à Internet. Aqui podemos dizer que temos a Internet das Pessoas (IoP- Internet-of-People).

Grande parte desses dados não estão estruturados nos formatos e qualidade que os sistemas de gestão existentes utilizam e vão exigir um tratamento de entendimento de linguagem natural, conversão voz-texto, tradução, decodificação ou modelagem estatística. Atualmente existem um conjunto generoso de  Serviços da Internet em Cloud (IoS-Internet of Services) disponíveis para essa transformação, com capacidade de geração de insights e resultados em tempo real.

Com as informações prontas para serem consumidas o Supply Chain Cognitivo entrega esses conteúdos, na forma mais transacional e direta possível, seja em forma de relatórios,dashboards, mensagens ou recomendações objetivas para equipes operacionais e de nível gerencial/tático para tomada de decisão.  Esta informação pode vir em formato de comandos, com regras e ações dirigidas às máquinas tornando os sistemas totalmente autônomos orientados por eventos.

Podemos estabelecer algumas situações conhecidas em a proposta de um Supply Chain Cognitivo façam sentido:

Caso de Uso
Supply Chain Tradicional
Supply Chain Cognitivo




Venda  e  Entrega
§ O pedido é calculado e enviado pelo cliente com sua visão de necessidade e prazos.  As mercadorias se movimentam na medida da aprovação comercial, de crédito e da disponibilidade de produtos.
§ Trâmites fiscais e processos logísticos concluem a operação. 
§ O consumo pode ser interrompido caso algum processo demore mais do que o esperado.
§ O sucesso da operação é medido ao final de todo o processo.
§ A mercadoria é abastecida com base em demanda real e mecanismos de reposição contínua sensíveis a ocorrências no ponto de consumo.
§ Condições para o atendimento são previamente combinadas com base no sortimento personalizado, no consumo e capacidade operacional sincronizados.
§ Risco de rupturas é minimizado.
§ O sucesso da operação é monitorado no ato e pelo cliente.

Manutenção de Equipamentos
§ Modelo Estatístico de Processos trabalha em cima de dados do equipamento e da produção e estabelece prazos e condições onde um equipamento pode falhar e planeja paradas programadas. 
§ Falha causada por evento não monitorado causa parada abrupta do equipamento,  quebra do ritmo operacional e perda da produção.
§ Compromissos não são cumpridos e custo de manutenção é maior que o esperado.
§ Sensores e mecanismos cognitivos  coletam dados não estruturados do ambiente e combinam dinamicamente com dados sensorizados do equipamento.
§ Modelos preditivos alertam o supervisor por celular a probabilidade de falha com maior antecedência e recomendam ajustes imediatos ou programados para períodos de menor uso e risco.
§ Programação da produção é mantida e manutenção pode ser espaçada, reduzindo custos e aumentando a produtividade.

Otimização na Geração de Energia

§ A energia gerada como resultante de um processo produtivo pode ser reaproveitada em outra etapa ou instalação oferecendo importante economia potencial de recursos.
§ A falta de sincronismo entre as etapas ou instalações e a impossibilidade de armazenamento dessa energia resultante acaba por se configurar num desperdício impactando no custo e na competitividade do produto.
§ Sistemas cognitivos coletam a cada minuto dados das diferentes instalações interligadas e são combinados com os planos de produção e programação dessas linhas.
§ Modelos preditivos permitem sugerir e até comandar um novo regime de operação,  com aumento/redução de ciclos, abertura/fechamento de válvulas e promover a melhor sincronização de processos e maior aproveitamenteo de energia e com menor consumo geral.




Monitoramento de Consumo Remoto
§ O controle e o rebastecimento de reservatórios estacionários de gás, outros gases ou líquidos são feitos periodicamente por veículos especiais, em ciclos diários ou semanais, roteirizados com base no histórico de consumo.
§ Qualquer aumento de consumo, perdas ou falha operacional nos tanques ou nas tubulações geram paradas inesperadas, causando interrupção da produção e de serviços essenciais.
§ O controle e a cobrança desse consumo é feito nos momentos de reabastecimento, com baixa flexibilidade para reprogramações, com riscos de atrasos e cancelamentos.
§ O monitoramento dos tanques e instalações feitos com Sistemas IoT e Mobilidade permitem saber em tempo real o consumo de cada instalação e o seu local, bem como eventuais incidentes que ocorram.
§ Sistemas analiticos planejam o momento ideal de reabastecimento sem riscos de falta ou excesso, e permitem melhor programação de rotas, com flexibilidade para atender a emergências;  gerando economias no custo total da operação.
§ O valor do consumo é conhecido em tempo real oferecendo formas mais vantajosas de cobrança e pagamento para o cliente e para o fornecedor.
§ O planejamento adequado de abastecimento permite otimizações do porte dos tanques com melhor controle de ativos.

Conclusão
Um Supply Chain Cognitivo se constroi criando a capacidade de “ouvir e sentir” a operação, prever necessidades, otimizar operações e “responder”prontamente com ações para tornar os processos mais autônomos e eficazes.  
Esta capacidade trará maior controle e melhores condições de agir rapidamente, no lugar e medida corretas, ampliando as fronteiras de operação das pessoas e das empresas. 

Autor: Paulo Eduardo Corazza – IBM Brasil Industry Consulting
Referências: (1) IBM Institute for Business Value - Redefining Ecosystems – The COO Perspective, 2015; (2) Recommendations for implementing the strategic initiative Industrie 4.0 – Interconect 2016.


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